Dez dias de planejamento e uma ação cinematográfica: PF revela detalhes do assalto ao aeroporto de Caxias do Sul

03/09/2024      351

Fonte e foto: Divulgação/PF/CP

A Polícia Federal (PF) revelou detalhes da Operação Elísios, que apurou o assalto a um avião que carregava R$ 30 milhões no Aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul. Com roteiro digno de um filme de ação, o crime foi executado no início da noite do dia 19 de junho e resultou na morte do sargento da Brigada Militar (BM), Fabiano Oliveira, em combate contra os criminosos.

O inquérito policial instaurado para investigar o caso revelou uma ação meticulosamente planejada por uma facção paulista com apoio de criminosos gaúchos. Após dez dias de preparação, usando equipamentos militares de alto calibre, o grupo conseguiu fugir com quase metade do valor, mas acabou sendo desmantelado pelas forças de segurança.

Na tarde desta segunda-feira, a PF, em coletiva na Superintendência Regional em Porto Alegre, apresentou os resultados da Operação Elísios. O crime, que chocou o Rio Grande do Sul, foi liderado por uma conhecida facção criminosa de São Paulo, que, segundo a PF, recebeu suporte operacional de uma das principais facções gaúchas.

A ação foi dividida em quatro fases. Dez dias antes do crime, o grupo paulista chegou ao estado, inicialmente com o objetivo de interceptar um avião que desembarcaria no dia 13 de junho, com R$ 10 milhões. No entanto, por razões desconhecidas, o foco mudou para a data de 19, quando uma aeronave com R$ 30 milhões estava prevista para pousar.

Usando veículos disfarçados de viaturas da Polícia Federal, os criminosos conseguiram enganar a segurança do aeroporto, imobilizando os vigilantes que protegiam a aeronave. No entanto, na fuga, foram confrontados por guarnições da BM, resultando na trágica morte do sargento Fabiano.

A investigação levou à prisão de 13 suspeitos e ao indiciamento de 17 pessoas. Outros dois envolvidos também foram identificados, mas não puderam ser indiciados porque já morreram. A Polícia Federal apreendeu 26 veículos, além de armas, munições e outros equipamentos usados na operação.

O delegado Márcio Teixeira, que apresentou os principais resultados da operação, destacou a complexidade da ação criminosa, que envolveu o transporte e manuseio de armamento pesado e sofisticado, além de uma logística minuciosa para despistar as autoridades.

Apesar das prisões e do desmantelamento da operação, a PF revelou que ainda existem lacunas na investigação, incluindo a possibilidade de que os criminosos tenham recebido informações privilegiadas sobre o voo, o que facilitou a execução do crime. O caso agora será encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), que decidirá sobre a denúncia à Justiça.

O secretário de Segurança do Estado, Sandro Caron, ressaltou que, embora o grupo tenha uma vasta experiência em crimes semelhantes em outros estados, a rápida resposta das forças de segurança no RS foi crucial para impedir que os criminosos escapassem impunes. “Esse grupo realizou vários assaltos em outros estados, mas, quando tentou no Rio Grande do Sul, se deu mal. Nosso objetivo é sempre antever e evitar que este tipo de crime aconteça. Não tendo sido possível, a gente parte para dar uma resposta rápida e foi o que aconteceu”, afirmou.

A operação recebeu o nome de Elísios, em homenagem ao sargento Fabiano. “Campos Elísios” é uma referência da mitologia grega do lugar onde os homens virtuosos repousam de forma digna após a morte.

Os crimes revelados na Operação Elísios são: latrocínio, falsificação de símbolo, explosão, falsificação de identidade, adulteração veicular, usurpação de função pública, posse de arma de uso restrito, lavagem de dinheiro, organização criminosa com arma de fogo e embaraço à investigação de organização criminosa. As penas máximas para os crimes indicados, se somadas, chegam a 97 anos de prisão. Praticamente todos os indiciados já responderam por crimes dessa natureza.

Facções se uniram para executar o crime

A Polícia Federal revelou que a operação criminosa foi fruto da aliança entre uma facção paulista, responsável pela idealização intelectual do crime, e uma facção gaúcha, que ofereceu suporte logístico e operacional.

A facção paulista, com histórico de ações violentas em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, coordenou o plano que envolveu desde o transporte de armas pesadas até a execução do assalto. O apoio gaúcho também foi fundamental para o sucesso da empreitada, com fornecimento de veículos, esconderijos e conhecimento da região.

A ação passou pelo custeio e transporte de fuzis, pistolas, armas de guerra, munições, explosivos, “jammers”, “miguelitos”, aparelhos telefônicos, chips, radiocomunicadores, roupas táticas, coldres, bandoleiras, veículos, placas falsas, plotagem de carros, hospedagens e esconderijos.

O grupo paulista, segundo a PF, tem atuado desde 2010 em vários estados brasileiros, com novas gerações de criminosos se integrando às operações ao longo dos anos. A expertise desenvolvida em mais de uma década permitiu que o grupo realizasse ações altamente sofisticadas, como o assalto em Caxias do Sul.

Logo após o crime, a polícia se dedicou intensamente à investigação, rastreando cada passo dos envolvidos. O trabalho foi crucial para a identificação, prisão e indiciamento dos envolvidos.