Ascar, há 65 anos fortalecendo o meio rural gaúcho

03/06/2020      1355

Foto do Repositório Institucional da Extensão Rural Gaúcha (Rierg)

É impossível lembrar do aniversário da Ascar sem falar do trabalho abnegado e comprometido de tantos extensionistas que fizeram e fazem a história da Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) no Rio Grande do Sul”. A afirmação é de Geraldo Sandri, presidente da Emater/RS e superintendente geral da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Ascar), ao avaliar os 65 anos da Ascar, celebrados nesta terça-feira (02/06).

A data também permite recordar as muitas ações de melhoria das condições de vida de quem vive no meio rural do RS, “pensadas, planejadas e realizadas pelos nossos extensionistas nos mais longíquos recantos, que só nós, da Emater/RS-Ascar, temos acesso. Isso é reflexo da vocação de cada técnico e de cada profissional que se dedica a garantir a produção, por exemplo, de alimentos em qualidade e quantidade, que abastecem a nossa população e contribuem para o desenvolvimento econômico e social do nosso Estado”, ressalta Sandri.

Na avaliação do presidente, “não é de hoje que a Ascar, através também da Emater/RS, é referência no país nesse trabalho de impulsionar e fortalecer o meio rural gaúcho”.

 

UNIÃO, AVANÇOS E CONQUISTAS

Fundada no dia 02 de junho de 1955 para orientar o pequeno agricultor a acessar crédito supervisionado e desenvolver a agricultura e o bem-estar da sua família, a criação da Ascar teve como protagonista o diretor do Banco Agrícola Mercantil S.A., Kurt Weissheimer, também presidente da Ascar. A primeira turma, com 28 extensionistas rurais, continha 15 mulheres da área de bem-estar e 13 homens da área agronômica. O grupo fez o “pré-serviço” (treinamento) na Fazenda Ipanema, em São Paulo. De volta ao RS, os extensionistas colocaram em prática um dos mais tradicionais métodos de Extensão Rural, “visita às propriedades rurais”.

No dia 14 de março de 1977 foi então criada a Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), que se somou à Ascar. Unidas, a Emater/RS e a Ascar passaram a revigorar e a integrar o Sistema Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, sob a coordenação nacional da então Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), com a missão de promover o desenvolvimento técnico-social.

No mês seguinte, no dia 30 de abril de 1977, tomou posse a primeira diretoria da Emater/RS, composta pelos engenheiros agrônomos Rodolpho Tácito Ferreira, no cargo de presidente; José Inácio Pereira da Silva, diretor técnico; e Edmundo Henrique Schmitz, diretor administrativo.

Na década de 1990, com a extinção da Embrater, a Emater/RS-Ascar passa a se relacionar com a Secretaria Estadual de Agricultura e, por meio de convênio, a executar a política oficial de Aters do RS. Começava uma nova etapa da Extensão Rural, com recursos provenientes de convênio com os municípios, Estado e a União.

Juntas, a Emater/RS-Ascar executa as principais ações, programas e políticas públicas.  Na trajetória de 65 anos, a Instituição tornou-se referência no uso de metodologias de comunicação e de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters), atualmente atuando em parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e tendo, como gestores, o presidente, Geraldo Sandri, e diretores técnico, Alencar Rugeri, e administrativo, Vanderlan Vasconselos.

 

MELHORIAS E PROGRAMAS

Entre os projetos e programas desenvolvidos ao longo da história da Ascar, destaque para a Operação Tatu, desencadeada a partir de 1964, como estratégia para frear o êxodo rural, apontando alternativas para melhorar a produtividade de terras consideradas inférteis. O nome do projeto fazia menção aos buracos feitos na terra para que amostras de solo fossem enviadas para análise em um laboratório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que na época tinha o Curso de Pós-Graduação em Ciência do Solo, o primeiro na área de fertilidade no país.

O Programa Estadual de Melhoramento e Fertilidade do Solo se expandiu pelo Estado a partir de 1968 com o envolvimento direto da Ascar e da Faculdade de Agronomia e Veterinária, por meio de convênio entre a Ufrgs e Universidade de Wisconsin (EUA), além da Secretaria da Agricultura, Ministério da Agricultura, agricultores, agentes de crédito e entidades parceiras locais.

Os resultados obtidos contribuíram para que o Ministério da Agricultura e o Banco do Brasil fomentassem uma linha de crédito específica para correção da acidez e fertilidade do solo. A partir deste momento, o BB lançou uma linha de crédito específica, com subsídios do Governo Federal e com prazo de pagamento estendidos para de três a cinco anos. As linhas de crédito permanecem até hoje, porém sem subsídio.

O trabalho com solos avançou junto com a história da Extensão Rural gaúcha. A mecanização, na década de 70, a implantação de terraços de base larga, descompactação do solo, eliminação das queimadas da palhada, redução do preparo e introdução de plantas recuperadoras, a partir dos anos 80, e o plantio direto e o trabalho com microbacias, intensificados na década de 90, foram alguns dos marcos da conservação do solo no RS. Hoje, a Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters), desenvolvida pela Emater/RS-Ascar em parceria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), dá atenção especial a um sistema completo de práticas conservacionistas de solo e de água.

 

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS

Foi entre as décadas de 70 e 80 que a transferência de tecnologias se tornou uma marca da ação extensionista, em especial a partir da criação da Embrapa, em 1972, e da Embrater, dois anos depois. É a partir daí que se concretiza a etapa em que a tecnologia chega aos agricultores – algo diretamente relacionado à expansão do crédito rural e do incentivo à produção de tratores e outros veículos de eletrificação rural e de fertilizantes e agroquímicos.

Nesse período, os problemas a serem enfrentados pela Extensão Rural já não eram de produção, mas de desemprego no campo, de elevada inflação e de dívidas, condição que, acreditava-se, a lavoura mecanizada teria potencial para contornar. O objetivo era ainda o de qualificar a ação dos órgãos existentes. A partir daí, a expressão “transferência de tecnologia” tem sua lógica levemente alterada e o conhecimento se difunde, passando a ter como pauta o desenvolvimento rural sustentável, algo que permanece até hoje.

 

ASSOCIATIVISMO E INTEGRAÇÃO

Com apoio da Emater/RS-Ascar, a formação de grupos e associações ganha força a partir de 1978 no interior do RS, apesar de o Programa de Apoio à Formação de Associações de Prestação de Serviços e Assistência Técnica (APSat) ter sido instituído em 1973 pelo Governo do Estado. Essas associações eram formadas por grupos de produtores rurais, que buscavam acesso a serviços que demandavam em seus empreendimentos. É por volta de 78 que surgem também os Clubes de Integração e Troca de Experiências (Cites), grupos organizados de produtores rurais, a maioria pecuaristas, que tinham na união e no trabalho em conjunto a base para a melhoria e desenvolvimento de suas atividades.

Até o início da década de 1980, as APSats ficaram restritas ao objetivo da mecanização, mas após foram se ajustando às necessidades e demandas locais dos agricultores. Nas décadas de 1980 e 1990, formaram-se APSats de secagem e armazenamento, de criação de suínos, de bovinos de leite, de eletrificação rural, de fornecimento de água, de comercialização e outras, mantendo a mesma forma jurídica e o mesmo estatuto, que sofria adaptações quanto aos objetivos. O fomento dado pelo poder público encontrou receptividade entre os agricultores familiares ao ponto de, em 1997 existirem no Estado 185 APSats.

No caso dos Cites, além de assistência às propriedades, os extensionistas auxiliavam na organização delas, promoviam reuniões e garantiam a participação de especialistas em palestras técnicas, apoiavam a criação de cadeias mercadológicas e outros projetos de desenvolvimento rural e introduziram nos Cites, de forma pioneira, trabalhos como as Boas Práticas Agropecuárias (programa da Embrapa viabilizado de forma piloto pela Emater/RS-Ascar). Esta forma de trabalho em 1986 evoluiu para uma Federação, denominada Federacite. A criação e a evolução dos Cites, das APSats e das propriedades de seus integrantes esteve intimamente associada ao trabalho de Assistência Técnica e Extensão Rural da Emater/RS-Ascar ao longo da história.

 

PROJETÃO E AGROINDÚSTRIAS

Um marco na história da Aters gaúcha é o Projetão, Plano Estadual de Extensão Rural, implementado pela Emater/RS-Ascar entre 1981 e meados de 1985. O objetivo era aumentar de forma significativa o volume da produção e os índices de produtividade da agricultura gaúcha, por meio da transferência de tecnologia agropecuária e gerencial.

Dirigindo fuscas e motos, modelo TT 125cc, os cerca de 300 profissionais da Emater/RS-Ascar levaram muito mais do que informações e conhecimento aos agricultores dos 51 municípios onde o Projetão foi implementado. O grande diferencial foi a interiorização de técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos, que passaram a residir e atuar em distritos ou comunidades, no intuito de uma maior integração técnico-produtor. O fomento à produção e o beneficiamento de alimentos sempre fizeram parte do trabalho de Aters desenvolvido nos últimos 65 anos em todo o RS.

A área de agroindústria teve seu início com a fundação da Ascar em 1955 e recebeu o nome de Setor de Laticínios (Selact), atuando em consonância com as demais áreas técnicas da Ascar, visando ao desenvolvimento da bacia leiteira do Estado. O período ficou marcado pela organização dos agricultores em cooperativas, que hoje ocupam papel de destaque no setor lácteo.

Na década de 1980, ampliou a sua atuação e passou a atender às demais cadeias produtivas, com ênfase na cadeia da carne, das frutas, das hortaliças e da cana-de-açúcar. Na década de 1990, a orientação institucional determinou a priorização de atendimento aos agricultores familiares. Em janeiro de 2012, o RS cria a Política Estadual da Agroindústria Familiar, através da Lei nº 13.921, com a finalidade de agregar valor à produção agropecuária, à atividade pesqueira, aquícola e extrativista vegetal, com vistas ao desenvolvimento rural sustentável, à promoção da segurança alimentar e nutricional da população e ao incremento à geração de trabalho e renda.

Em julho do mesmo ano, o Governo do RS lança o Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf) e institui o selo de Certificação “Sabor Gaúcho”, que marca a certificação de produtos provenientes de estabelecimentos de produção artesanal, legalizados sob o ponto de vista ambiental, tributário e sanitário. Em 2017, mais de mil agroindústrias já possuíam o selo Sabor Gaúcho. Hoje, são mais de 1,4 mil agroindústrias cadastradas no Peaf.

Nessa trajetória de 65 anos, a Emater/RS-Ascar segue sua missão de promover o desenvolvimento rural sustentável no Estado, sendo referência na prestação de serviços de Aters, Classificação e Certificação de produtos agropecuários.

“Nesse momento em que o mundo está quase paralisado em função da pandemia da Covid-19, aproveitamos esta data de fundação da nossa Ascar para agradecer a cada profissional, pelo empenho e a dedicação, e principalmente a cada agricultor e agricultora, com que nos recebem em suas casas e propriedades e nos permitem tantas trocas de experiências e conhecimentos que só nós, extensionistas, temos a honra de exercer”, destaca o presidente da Instituição, ao desejar “Vida longa à Ascar”.

Foto do Repositório Institucional da Extensão Rural Gaúcha (Rierg), disponível em dspace.emater.tche.br